Ecos do Congresso Europeu de Diabetes (EASD 2011): Câncer de Pâncreas e Diabetes

30/10/2011 20:17

 

ECOS DO CONGRESSO EUROPEU DE DIABETES (EASD 2011): CÂNCER DE PÂNCREAS E DIABETES
Por Rosane Kupfer

"Existem mais de 20 estudos clínicos em andamento
associando Metformina a drogas antineoplásicas no
combate ao câncer" (Pollok, EASD).

Dra. Rosane KupferUm simpósio para não ser esquecido, em um ginásio lotado, com palestras de alta qualidade, abordou a relação entre diabetes e câncer. A incidência e a mortalidade do câncer de pâncreas parecem estar aumentando. Apesar do diagnóstico e tratamento terem melhorado, somente 4% dos pacientes tratados viverão 5 anos após o diagnóstico. Essa tão complexa relação necessita ainda ser mais bem compreendida, mas importantes descobertas já estão sendo feitas. A seguir um resumo do que pude captar.

Edwin Gale relembrou que 95% dos CA de pâncreas são adenocarcinomas e que o DM2 é fator de risco, além das pancreatites crônicas hereditárias e alcoólicas, o tabagismo, a idade avançada, a obesidade e a história familiar entre outros. Ao diagnóstico geralmente já se encontra em estágio avançado, com icterícia indolor, com cerca de 3 cm de diâmetro, 75% localizados na cabeça do pâncreas e 50% com metástases. Deve-se estar atento para casos novos de Diabetes pois entre 40 e 50% dos pacientes com câncer de pâncreas tem o diagnóstico de diabetes menos de 3 anos antes.

O adenocarcinoma ductal é a neoplasia mais comum do pâncreas (95% dos casos) e também a mais mortal. A origem deste carcinoma é um precursor neoplásico conhecido como PanIN (Pâncreas Intraephitelial Neoplasm). São lesões microscópicas (<5 mm) e portanto não visíveis em métodos diagnósticos de imagens. Uma série de genes tem sido relacionados como responsáveis pela herança genética do câncer de pâncreas porém não existe ainda consenso para estudos em familiares que levem a programas de triagem e prevenção. Isto deve ser feito inicialmente com uma boa história familiar colhida pelo médico. A patogênese seria a soma da susceptibilidade genética associada à influência ambiental. No caso da obesidade, a secreção aumentada de citocinas inflamatórias tem sido implicadas. Alguns estudos mostram que a hiperglicemia não estaria relacionada a um risco maior deste tipo de câncer.

Edwin Gale encerra levantando um questionamento: vale a pena investigar câncer de pâncreas em pacientes com DM2? Afinal 0,8% dos indivíduos com DM2 com mais de 50 anos desenvolvem câncer de pâncreas em 3 anos. Deixou no ar esta dúvida.

M Pollak, o segundo palestrante abordou como o Diabetes e seus tratamentos influenciam o risco de câncer. Relembrou que a associação entre DM e câncer de pâncreas chama a atenção desde a publicação de um primeiro estudo em 1914. Como exemplo da influência de hormônios no câncer, citou o de mama. A mediação hormonal vai além da influência dos esteróides e como candidatos a mediadores hormonais citou: IGFs, Leptina, Adiponectina e Citocinas Inflamatórias. Lembrou que quando foi clonado, o receptor de insulina foi considerado como da família dos oncogenes. Citou também um estudo mostrando que a inanição protege do risco de câncer e que a evolução para a morte é mais comum no paciente obeso, com câncer de próstata.

Entrando especificamente no tratamento do diabetes e sua influência, citou o artigo de Libby et AL, Diabetes Care 2009; 32:1620 como uma das maiores evidências quanto a prevenção de câncer em pacientes diabéticos em uso de metformina. O principal mecanismo antineoplásico da metformina é a ativação a AMP-Kinase, levando a inibição da formação e do crescimento tumoral. Além disso, pode também "bypassar" a AMPK e agir por outras vias, aumentando seu potencial no tratamento antineoplásico.

A metformina faz parte da abordagem anticâncer cujo objetivo também é atingir o metabolismo das células cancerosas, inibindo seu crescimento ou levando a sua apoptose. Com base neste racional teórico, ela tem sido testada em associação a outras drogas antineoplásicas em estudos clínicos. Em indivíduos com dieta altamente energética, a metformina reduz a captação exagerada de FF-2 fluoro-2-deoxy D-glucose. Isto não ocorre em dietas não energéticas. Como exemplo, Pollak citou que a metformina induz apoptose de células de mama cancerosas, inibe a fosforilação oxidativa e aumenta a glicólise nas células cancerosas hepáticas, reduzindo a produção de ATP.

Na medida em que em os trials com metformina sejam publicados imagino que este tema ganhará cada vez mais espaço em nossos congressos, beneficiando por fim nossos pacientes.

 

Retirado do Site www.assex.org.br