Os antidiabéticos disponíveis na rede pública são suficientes para um tratamento adequado?

02/05/2012 19:14

 

Opções terapêuticas mais modernas custam mais, porém apresentam vantagens terapêuticas indiscutíveis em relação às alternativas já existentes? Ou o custo mais alto dos medicamentos mais recentes não traz vantagens terapêuticas diferenciadas e, portanto, não justifica o investimento adicional? Afinal de contas, contrariando o dito popular, a saúde tem preço, sim, e às vezes, esse preço é muito alto.

Mas, vamos abordar agora os aspectos médico-terapêuticos da questão aqui proposta, ou seja, será que os antidiabéticos disponíveis na rede pública são suficientes para um tratamento adequado? Seria possível promover um bom controle glicêmico com as opções terapêuticas atualmente disponíveis? Os resultados de um estudo clínico conduzido recentemente nos mostra que 90% dos diabéticos tipo 1 e 73% dos diabéticos tipo 2 não apresentam controle adequado do diabetes.

Esses resultados podem estar relacionados à baixa eficácia dos esquemas terapêuticos utilizados ou ao baixo índice de insulinização de nossa população diabética. Outros importantes fatores contributivos incluem a baixa aderência ao tratamento de longo prazo, a falta de programas de educação continuada em diabetes na maioria dos municípios brasileiros ou à falta de condições financeiras que possibilitem ao paciente ter acesso a outros medicamentos mais recentes e não disponíveis na rede pública.

Vamos aos fatos: basicamente, a rede pública oferece uma sulfonilureia (glibenclamida), a metformina e a insulina humana. A combinação de sulfonilureia + metformina pode ser bastante eficaz em muitos casos, mas não é um combinação que seja eficaz pelo resto da vida. Afinal de contas, o diabetes é uma doença evolutiva e, com o passar do tempo, exige adaptações frequentes da conduta terapêutica. Nas condições atuais, o único passo seguinte à combinação sulfoniluréia + metformina seria a insulinização, a qual apresenta alta eficácia também no tratamento do diabetes tipo 2, mas pode comprometer o índice de adesão do paciente ao tratamento em vista da rejeição frequentemente manifesta pelos pacientes aos tratamentos injetáveis. Na rede pública não há disponibilidade para um terceiro antidiabético oral quando falha a combinação de sulfoniluréia + metformina.

Frente a essa situação, fica caracterizada a necessidade da dispensação de um medicamento oral, com alta eficácia e baixos níveis de efeitos adversos, que não promova aumento de peso e que não aumente o risco de hipoglicemias. Ou seja, um medicamento com o perfil terapêutico das gliptinas, também chamadas de inibidores do DPP-4, a qual deveria ser usada como terceiro antidiabético oral, quando falha a combinação clássica de sulfoniluréia + metformina.

Assim caracterizada a necessidade médico-terapêutica da inclusão das gliptinas no arsenal de tratamento do diabetes na rede pública, restaria ao governo negociar com os fabricantes o fornecimento desse medicamento a um custo mais razoável e compatível com as disponibilidades financeiras da saúde pública. Tal inclusão de uma nova opção terapêutica não iria resolver por completo o problema do mau controle do diabetes, mas, certamente, seria um grande passo nesse sentido.

 

Dr. Augusto Pimazoni Netto
Coordenador dos Grupos de Educação e Controle do Diabetes do
Hospital do Rim e Hipertensão da Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP
Médico do Centro de Diabetes do Hospital Alemão Oswaldo Cruz

Site SBD Qua, 18 de Abril de 2012